NSLOD muzik xperimentz #1
Existem pessoas que, por uma razão ou por outra, nasceram para
consumir música, as quais tentam conseguir tudo (ou parte) do que
agrada a seus ouvidos, como é o meu caso; outras cujo interesse não
é apenas ouvir música,mas também produzi-la, caso no qual se inclui
Alcides Honório Júnior, ou “Garfield”, como alguns o chamam, nome
por trás do projeto NSLOD, que neste segundo semestre de 2003
lança muzik xperimentz #1, CD que reúne 14 de algumas (ins)pirações
sonoras que vêm martelando na cabeça desde 1998, quando Dead
Birds Wanna Fly, duo formado em 94 por ele e seu amigo Bona,
chegou ao fim.
Diferente do trabalho desenvolvido em seu projeto
anterior, o qual se acentuava principalmente em sonoridades de
guitarras, esse álbum de estréia do NSLOD (impronunciável acrônimo
cujo significado, segundo Garfield, é “no space left on device”, ou
seja, o aviso do computador quando “não existe espaço disponível
para gravar”) ecoa diretamente do cenário musical eletrônico, trazendo
influências de Slowdive, Stereolab, Durutti Column, Trisomie 21, 808
State, nomes estes que por si sós já bastam para ter uma idéia (pelo
menos para aqueles que sabem de que bandas estou falando) da
sonoridade que se encontra em muzik...: batidas eletrônicas, guitarra
e baixo harmoniosos, ritmos suaves e dançantes, além de
imprescindíveis vozes femininas, é o que se pode constatar, por
exemplo, nas faixas Lol, Brother 9xtended0, A Day in a Hard (Disk)
Life, Meu Primeiro Gárgula, Pula da Cabeça, Heel Goed e This Is a
View from My Room. Mas o disco não chama a atenção apenas pelo
lado sonoro; no encarte, cada título é acompanhado de belos trabalhos
gráficos (aliás, são capas, cuja impressão pode ser obtida através
dos arquivos pdf presentes no cd), criados por diferentes convidados
de Garfield.
Com tiragem limitada (1.000 cópias)
e distribuição da distribuidora independente Trama, muzik xperimentz
#1 é apenas o começo de três lançamentos do NSLOD, nome este
que, conforme promete seu idealizador, estará estampado no trabalho
de muita gente boa, ou seja, será sinônimo de selo. Agora, corra atrás
de sua cópia, aperte o “play” e boa viagem!
Edhson FM
outubro de MMIII
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No final dos anos 80, o lo-fi trancou a estética “do it yourself” do
punk rock dentro de um quarto. Nos anos 90, a acessibilidade às
novas tecnologias eletrônicas, jogou-a para dentro de um computador,
o que potencializou as possibilidades para que qualquer um munido
de um computador e algumas idéias na cabeça pudesse transformálas em realidade e, quase que simultaneamente, lançá-las mundo
afora. O NSLOD é, obviamente, fruto disso tudo. Mas não apenas
disso. É o que deixa claro este muzik xperimentz #1. O grande sabor
do disco está no diálogo entre o orgânico e o sintético. Parece chavão,
mas aqui a coisa é séria. São beats influenciados pelo hip-hop, IDM
e drum’n’bass convivendo com guitarras filhas do My Bloody Valentine.
A praia do NSLOD nasce do encontro das batidas áridas com o mar
de guitarras e a beleza dessa paisagem às vezes impressiona. Os
elementos se encontram, se perdem e se reencontram, se alinham
e descompassam, esclarecem e confundem.
Vão rotular, chamar de
indietronica ou algo que o valha. Mas, como já disse alguém, “música
boa” é uma etiqueta que cai melhor.
Dagoberto Donato
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Na Europa já está sendo usado o feio rótulo indietrônico para classificar
artistas de vanguarda, como Lali Puna, B. Fleischmann, Ulrich Schnauss,
Hermann & Kleine, Sweet Trip, Notwist, Styrofoam e outros, que tem
como principal característica justamente essa mistura de sons etéreos
do shoegazing e de artistas da 4AD com a eletrônica de vanguarda
como artistas da Warp, Seefeel, Four Tet e hip hop alternativo.
Atualmente, as principais gravadoras que apostam no que é chamado
de indietrônico são as alemãs Morr Music e Monika Enterprise, além
das norte-americanas Claire e Darla Records. NSLOD não fica devendo
nada para esses artistas atuais.
Gilberto Custódio Jr.
Esquizofrenia
Clipping
Muzik Xperimentz #1
A embalagem musical da vez é o tal de indietronic, a mistura vanguardista de sonoridades pós-rock com elementos eletrônicos da IDM ("intelligent dance music") e com beats de hip hop disfarçados. Se for para classificar o som do Nslod, projeto do programador Garfield, é por aí que ele vai. (FM)
Folhateen - Melhores de 2003 - Eletrônico
No Brasil, há três destaques: "Music Is My Life", primeiro registro do trabalho autoral do DJ Mau Mau, um dos nomes que integra a base da cena eletrônica do país, "Dream Pop", do projeto Benzina (a.k.a. Edgard Scandurra), que chegou recheado de boas idéias e inocência eletrônica, e, na outra ponta da linha do tempo, o Nslod, projeto de vanguarda do programador Garfield, que ousou sublimar a eletrônica com sonoridades pós-rock e viagens herdadas da IDM. O pé só fica no chão quando a batida pesa ou quando os flertes com o hip hop dão as caras. (FERNANDA MENA)